quinta-feira, 29 de setembro de 2011

UM ECO NO FEMININO







Ontem finalmente consegui um tempinho para começar a rever o filme “ Munique” que tinha gravado ( bendito MEO!!!) na semana passada.
Tinha-o visto no cinema quando saiu e deixou-me uma impressão tão forte que quis revê-lo.
Mas não é do filme que quero escrever hoje , até porque o tempo foi mesmo “inho” e ainda não terminei. Quem sabe hoje… Fica prometida uma análise em post próximo.

O que aconteceu foi que, por uma daquelas associações de ideias sem conexão, dei por mim  a pensar numa autora infelizmente pouco conhecida e que está na minha lista de grandes autores.

Fomos “apresentadas” em 2001 em Paris depois dum dia a deambular pelas ruas e ruelas, revendo velhos recantos, re e descobrindo outros.
O corpo a pedir-me descanso antes de jantar e eu vá de zappar no televisor do hotel , estendida na cama , naquela semi inconsciência de olhar sem ver.
Eis senão quando num qualquer programa um critico literário profere a seguinte frase: “Eliette Abecassis pode ser comparada a Umberto Eco”. Dei, literalmente, um salto! Os franceses não são propriamente conhecidos por fazerem elogios, mesmo quando se trata de compatriotas e ali estava aquele homem , com o ar mais intelectual e francês que se possa ter a tecer rasgados elogios a uma “ garota” de 32 anos, comparando-a a uma das grandes figuras do espectro filosófico /literário.
Está bem de ver que antes de jantar arranjei maneira de passar pela FNAC de Les Halles e comprar um livro da dita senhora.
E foi assim que me chegou às mãos “ QUMRAN” que me obrigou a passar essa noite em claro. Não conseguia colocá-lo de lado de maneira nenhuma e aproveitei a minha solidão para me deixar envolver por uma escrita que, se não tem a maturidade dum Eco tem, em contrapartida a frescura que àquele falta.
Tal como em “ O Nome Da Rosa”,  Eliette esconde um romance de profundo simbolismo histórico e esotérico , num aparente policial.
Nascida numa família sefardita em Estrasburgo e filha dum reconhecido professor de filosofia na universidade de Bordeaux, considerado como um dos grandes pensadores do judaísmo, Eliette cresceu num ambiente profundamente religioso e fortemente impregnado da cultura judaica. Esse seu conhecimento transpô-lo para os seus livros onde o simbolismo, quer cabalístico, quer esotérico, se entrelaçam numa trama profunda mas de fácil e prazeirosa leitura.
Em Portugal só encontrei dois títulos traduzidos “ QUMRAN- O MISTÉRIO DOS MANUSCRITOS DO MAR MORTO” e “ A ÚLTIMA TRIBO”. Creio ter visto algures O TESOURO DO TEMPLO em versão brasileira.  Confesso que sempre que posso e sei leio nas versões originais.
Estes três títulos  rondam em torno de Ary Cohen, um personagem que encarna simultaneamente o investigador/espião, aventureiro e o homem profundamente religioso, iniciado nalguns dos mais profundos mistérios, que se questiona, se angustia perante o desconhecido, que se transforma pelo conhecimento do que o rodeia e de si mesmo.
Eliette podia ter ficado por aqui e explorar este  filão, como o fazem muitos autores ao criarem uma personagem e em torno dela  rodopiarem uma e outra vez.
Mas não! Cada obra surpreende-nos e é a sua capacidade de incorrer por caminhos vários, que atrai o leitor e o faz respeitá-la como a grande escritora que é.

A fim de escrever o argumento para um filme israelita de Amos Gitaï – Kadosh- instala-se durante seis meses no bairro ultra ortodoxo de Mea Sharim em Jerusalém e ali escreve um dos mais fortes e objectivos romances sobre a condição feminina no seio da comunidade ultra ortodoxa judaica: La Repudiée.
Não farei a sinopse do livro . Nem deste nem dos outros.
Apenas subscrevo o juízo feito pelo crítico francês.


BIBLIOGRAFIA

QUMRAN – (Traduzido em Português)


L’OR ET LES CENDRES – (?)

PETIT MÉTAPHYSIQUE DU MEURTRE ( ensaio) (?)

LE TRÉSOR DU TEMPLE(?)

LA REPUDIÉE (?)

LA DERNIER TRIBO – (Traduzido em Português)


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

UM AMOR SEM FIM




Sou uma leitora compulsiva! É oficial e de há muito notório! Sou das que não toma o pequeno almoço sem ter à frente qualquer coisinha por onde passar os olhos, seja jornal, revista, livro ( menos, que àquela hora os olhos ainda estão pisquitos) ou em último recurso a embalagem dos cereais.
Gosto de ler, pronto!
Mas não se pense que engulo tudo o que leio ou que não sou crítica q.b.! Pior: sou extremamente critica! Além de que sou de amores e ódios.
Autor que não me cative à primeira dificilmente me voltará a ter no rol dos leitores! E podem dizer-me que de facto evolui e coisa e tal. Não há maneira!
Mas o contrário também acontece. Quando encontro um autor por quem me apaixono é quase doentio. É doentio!!! Leio tudo, até ter que parar por enjoo de estilo, entremear com outros para mais tarde voltar, como quem retoma um velho amor.
Adoro ver como evoluem na forma como pintam cada frase, cada discrição. Como se tornam de inseguros autores de livrinhos a galardoados com best sellers. Sinto-me quase parte desse triunfo! Apetece-me dizer: “Ah e eu que o conheci tão pequenino e é vê-lo agora. Orgulho da sua leitora!”
De momento estou numa relação reatada com o Ken Follett .
Depois de ter visto a série OS PILARES DA TERRA, livro pelo qual eu passava sem que ele me escolhesse  ( vá lá saber-se porquê! ), decidi-me a ler, não esses mas os anteriores, os livros antes da consagração.
Foi paixão á primeira leitura! Há um estilo corrido jornalístico que imprime às histórias uma dinâmica que nos enlaça e arrebata, sem nunca perder o cunho da escrita de autor. Coisa que muito jornalista da nossa pracinha bem podia aprender! Sim que ser bom jornalista , ou nalguns casos assim-assim, não lhes confere o dom da escrita e muito menos o título de escritor.
Mas voltemos ao Ken Follett.
O que me atrai nos seus livros é o profundo conhecimento dos temas que aborda, quer ao nível histórico, quer geográfico, quer sociológico, incutindo-lhes uma forma tão singela e ao mesmo tempo tão real e profunda que quase poderíamos cruzarmo-nos com uma qualquer personagem ao virar da esquina.

Foi assim com O VALE DOS CINCO LEÕES; O HOMEM DE S. PETERSBURGO; NOITE SOBRE AS ÁGUAS e NOME DE CÓDIGO LEOPARDA.
Aí já estava perdidamente apaixonada e entreguei-me: A QUEDA DOS GIGANTES  foi num ápice. Felizmente que ainda não tinha saído o segundo porque me poupou a fase do enjoo e naveguei para outras águas.
Mas um velho amor é difícil de morrer e eis-me aqui agarrada a UM MUNDO SEM FIM  até às tantas da madrugada, apagando o candeeiro relutantemente e sonhando em como deve sentir-se um pequeno deus quem assim cria.




 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A SAGA DO REI QUE RETORNA

Quem me conhece sabe: tenho seguramente todos os livros publicados em Portugal sobre a saga e as lendas arturianas, além de umas boas dezenas em língua estrangeira, muitos deles duplicando os traduzidos.
Enfim a cada um as suas idiossincrasias,as suas manias e a minha é esta.
Fascina-me a história  dum rei que, em plena idade média, teria construido um reino baseado numa  democracia parlamentar em torno duma Távola Redonda.
Fascinam-me os valores da ética, do governar para o povo e pelo povo, da noção de deve, talvez porque se perderam na noite dos tempos.
 Atrai-me todo o símbolismo em torno da história, desde uma espada que só se deixa possuir por um coração valente , puro e justo até à ligação da terra com o seu rei, sendo que uma está intrinsica e irremediavelmente ligado ao outro e vice versa.
Intriga-mee maravilha-me o papel das várias mulheres que perpassam por toda a história, como peças essenciais duma trama que termina com a morte do rei e do reino deixando para trás o sonho do retorno do rei.
É um sonho que perpassa por todo o ideário ocidental: vêmo-lo no nosso D. Sebastião,, que voltará numa manhã de nvoeiro, temo-lo no Cristo que ressuscitará. E em todos os casos a Terra, o reino será redimido.
Está bem de ver que a história do Rei Artur na passa duma lenda. Pelo menos não existe qualquer referência à sua existência nem mesmo no célebre "THE HISTORY OF KINGS OFBRITAIN" de Geoffrey de Monmouth. Mas e se não fosse? E se Arthur não fosse mais do que uma corruptela de Ab Uther ( filho de Uther ) este último perfeitamente reconhecido como tendo existido?
Bom mas como não tenho pretensão a historiadora,vou-me limitando a ler e a ver o que se vai fazendo em torno deste assunto. Está bem de ver que tenho tido alguns amargos de boca. O último foi a longa metragem Arthur uma americanada indiscritível.
A Fox apresenta-nos agora ao Domingo à noite a série CAMELOT que , até ver se revelou duma seriedade quer ao nível da história quer ao enquadramento histórico que passa por um belo guarda roupa e a uma recriação de época, irrepreensivel.
A não perder.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

EM NOME DE DEUS








By the yes by the no como diria qualquer inglês, nada melhor que começar um blog com um post com este título.
Mas, ironias à parte, o que aqui quero partilhar hoje é a impressão que o filme DOS HOMENS E DOS DEUSES  me deixou e a reflexão que se lhe seguiu.
Antes de mais um preâmbulo: há vinte e cinco anos que mantenho este hábito com o meu cara metade: todas as semanas vamos ao cinema. Interregno neste hábito apenas o nascimento dos rapazes ( e os anos que se lhe seguiram ) e impossibilidades profissionais ou de saúde. De resto é fatal e certinho: cinema semanal. Gostamos daquela sensação de sair de casa estar numa sala grande e confortável com som soundround… . manias. Boas Manias , note-se.
Ora como os nossos gostos nem sempre coincidem ( leia-se quase nunca ) uma semana escolhe um outra escolhe o outro.
Isto como intróito para dizer que andei a adiar e arranjar desculpas para não ver o filme quando em exibição.
Esta semana  calhava-me a mim a escolha só que ao chegarmos ao cinema só havia lugares nas duas primeiras filas e a Noite em Paris ficou para outro dia.
Lançámos mão do clubevideo MEO e, vá lá saber-se porquê escolhi (EU!!) o filme.
As primeiras cenas levaram-me a enroscar-me no sofá já antevendo uma bela soneca.
Pois bem, fiquei colada ao ecran o tempo todo refém da beleza da fotografia e do ritmo lento mas perfeitamente enquadrado no contexto da história.
Oito frades numa comunidade na Argélia já independente e que começa a haver-se com os primeiros fundamentalismos. Todo o filme é uma morte anunciada e aceite. Não com  a heroicidade dos mártires mas com os terrores humanos envoltos numa compaixão para com a comunidade e com um sentido do dever, das escolhas feitas, dos compromissos assumidos. São homens que tremem ao ver-se perante as armas, que duvidam, que soluçam pedindo a Deus que lhes dê uma luz, que suam de medo perante o que sabem estar para vir.
No filme há duas cenas marcantes: Uma quando um grupo de fundamentalistas chega ao mosteiro em busca de medicamentos. A troca de palavras entre o chefe do grupo e o prior é feita numa base de tolerância que me surpreendeu.
A outra é o reconhecimento do cadáver desse mesmo mujadin feito pelo prior que tão logo inicia uma  oração por aquela alma, para escândalo do militar presente.
Não pude, uma vez mais pensar em quantas atrocidades e guerras são cometidas em nome de deus!
Um filme que irei rever.

Ficha Técnica:

Realização:

·         Interpretação:
·         Philippe Laudenbach
·         Argumento: